Apesar de diversidade, equidade e inclusão serem temas amplamente discutidos na indústria de recrutamento, a triste realidade é que os preconceitos de gênero continuam a influenciar decisões de contratação em todo o mundo, por isso hoje falaremos sobre o sexismo no recrutamento.
De acordo com um relatório da ONU que reuniu dados de 75 países, 90% das pessoas (incluindo homens e mulheres) têm preconceitos, de uma forma ou de outra, contra as mulheres. Além disso, quase metade dos entrevistados acredita que os homens são melhores executivos e líderes de empresas.
Estes números são preocupantes, por isso quisemos ouvir as histórias por detrás deles.
Aqui estão alguns relatos angustiantes, mas verdadeiros, do machismo que as mulheres enfrentaram durante o processo de contratação.
6 experiências horríveis das mulheres durante o processo de contratação
1. Ser uma mulher jovem e solteira não se enquadra nos seus critérios?
“Tenho que presumir que isso nunca aconteceria hoje… mas quem sabe.
Quando eu era solteira e estava na casa dos 20 anos, fiz uma entrevista para uma promoção na minha empresa. Outro vendedor também foi entrevistado. Ele era um homem casado com filhos.
Meu desempenho era consistentemente superior ao dele. Nos disseram que, se ele conseguisse o emprego, viria com um carro da empresa. E eu? Nem tanto. Por quê? Porque eu era ‘apenas’ uma mulher jovem e solteira.”
– Melanie Wilson, fundadora da Melanie Wilson Media
2. Não levar as mulheres a sério em cargos executivos
“Quando estava entrevistando para um cargo estratégico de Chefe de Gabinete, respondendo diretamente ao CEO de uma empresa de tecnologia, fui pega de surpresa ao ser questionada com uma pergunta chocante e sexista.
O entrevistador começou a chamada de vídeo perguntando: ‘Você já entrevistou com o CEO?’ Respondi: ‘Sim, algumas vezes até agora.’ Ele levantou uma sobrancelha e sorriu para mim, respondendo: ‘Ele é muito bonito, não é?’
Senti como se ele estivesse insinuando que eu estava buscando essa posição especial por motivos menos profissionais. Fiquei feliz em desviar da pergunta, dizendo: ‘Todas as nossas entrevistas foram apenas por áudio – realmente gostei das nossas discussões.’
Embora eu tenha visto várias fotos do CEO ao pesquisar sobre a empresa, nossas chamadas tinham, de fato, sido apenas por voz. No final, apreciei como essa pergunta da entrevista me deu um vislumbre da cultura da empresa.”
– Lucia Chang, fundadora da Sênior Wing
3. Dizer ridiculamente às mulheres como devem se vestir!
“Tive algumas experiências sexistas ao longo da minha carreira. Uma delas foi em um emprego de escritório, quando o gerente de RH me pediu para me vestir como o ‘homem da casa’ e me deu maquiagem, salto alto e uma saia para usar na frente dos clientes.
Outra foi quando me candidatei a um cargo em que o recrutador me disse que não queria contratar mulheres que parecessem masculinas para as funções, porque achava que isso ameaçaria seu modelo de negócios.
Quando levantei essas questões com ele e tentei fazê-lo mudar de atitude, ele se tornou ainda mais agressivo a respeito.
É importante reconhecer e abordar essas experiências para garantir que as mulheres sejam tratadas com respeito e recebam oportunidades iguais para ter sucesso no ambiente de trabalho.”
-Sussane Smith, líder de RH na LEDask
4. Sobrecarregar as mulheres com trabalho e ainda assim não reconhecê-las
“Trabalhei em um escritório como engenheira de software. Já havia enfrentado sexismo antes, mas aquele dia foi diferente.
Era um sábado, e todos os meus colegas estavam em casa. Ainda assim, minha gerente veio até mim e quis revisar alguns projetos nos quais eu tinha trabalhado no último mês. Ela me pediu para redigir algumas coisas para que ela pudesse revisar meu trabalho mais de perto.
Fiz o que me foi pedido, perguntei por esclarecimentos ao longo do caminho, conforme necessário, e escrevi o que achei que deveria ser. Quando terminei, ela deixou o documento na minha mesa com um pedido de desculpas, dizendo que estava bom, mas não ótimo. Isso nunca tinha acontecido antes!
Essas ações podem reforçar estereótipos de gênero e fazer com que as mulheres sintam que não são levadas a sério em suas funções.”
-Amelia Davidson, líder de RH na NcCutting Tools
5. O preconceito de gênero no seu auge!
“Enfrentei sexismo durante o processo de contratação quando me candidatei a um emprego na indústria financeira. Eu tinha todas as qualificações e experiência necessárias, mas o painel de entrevistadores focou suas perguntas no meu gênero.
Me perguntaram por que eu deveria ser contratada em vez de um homem e até sugeriram que eu só estava ali por causa de uma ‘cota’. Eu sabia que estava sendo discriminada, e isso me deixou frustrada e desanimada.
Esse evento me ensinou o quanto o viés de gênero é onipresente no ambiente de trabalho. De acordo com estudos, as mulheres geralmente são julgadas de forma mais dura em entrevistas de emprego do que os homens, e têm menos chances de serem contratadas para certas ocupações.
Além disso, as mulheres enfrentam desafios adicionais no processo de contratação, como a falta de mentores ou patrocinadores, o que pode tornar ainda mais difícil conseguir um emprego.”
-Hannah Sanderson, CEO e fundadora da Clever Canadian
6. Duvidar que as mulheres consigam manter um equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada
“Eu estava sendo entrevistada para um cargo de alto nível, e durante a entrevista, um dos entrevistadores homens me perguntou como eu equilibraria meu trabalho com minhas responsabilidades familiares. Essa pergunta foi inapropriada e irrelevante em relação às minhas qualificações e experiência para o cargo.
Essa experiência ressaltou a necessidade de enfrentarmos o problema dos preconceitos internalizados contra as mulheres em nosso processo de contratação.
Para resolver isso, começamos a implementar programas de treinamento para todo o nosso pessoal de RH, a fim de aumentar a conscientização sobre os preconceitos de gênero e fornecer ferramentas e estratégias para evitá-los.”
-Veena KV, Diretora de Operações de Pessoal da Lanteria HR Solution e SyndicationPro
4 dicas para criar um processo de contratação sem preconceitos
1. Redigir descrições de funções inclusivas
Uma das coisas mais importantes que os recrutadores podem fazer para evitar casos de preconceito de gênero é revisar e atualizar as descrições de vagas.
É essencial usar uma linguagem neutra em termos de gênero nas descrições de vagas e evitar qualquer requisito ou qualificação específica de gênero que não seja necessária para o cargo.
2. Criar um processo de entrevista estruturado
Implementação de um processo de entrevista estruturado é outra forma de evitar casos de sexismo ou misoginia durante o processo de contratação.
É fundamental usar um conjunto padronizado de perguntas para todos os candidatos, garantindo que todos sejam tratados de forma justa e recebam as mesmas perguntas.
Além disso, dê formação aos seus entrevistadores para utilizarem o mesmo processo, a fim de garantir a coerência e evitar quaisquer perguntas inadequadas ou discriminatórias.
3. Evitar os estereótipos
Deve evitar fazer suposições com base no sexo, idade ou qualquer outra informação demográfica.
Isto inclui evitar estereótipos sobre as funções profissionais, tais como assumir que os homens são mais adequados para funções de chefia.
Avalie os candidatos com base nas suas competências, qualificações e experiência e não em suposições ou estereótipos.
4. Implementação da formação em DEI
Oferecer treinamento em diversidade e inclusão para todos os funcionários envolvidos no processo de contratação, incluindo recrutadores e gerentes de contratação, é outra maneira de evitar casos de discriminação baseada em gênero.
Esse treinamento aborda tópicos como preconceito inconsciente, privilégio e o impacto da discriminação. Também é uma ótima prática incentivar o feedback dos candidatos para identificar áreas de melhoria e fazer as alterações necessárias no processo.
Mesmo hoje, as mulheres ainda são superadas em número, posição e remuneração pelos homens no mercado de trabalho. Esses casos de preconceito de gênero durante a contratação são apenas uma amostra do que está acontecendo por aí.
Assim, os recrutadores e as empresas devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir um processo de recrutamento justo e respeitoso para as candidatas, se não quiserem perder os melhores talentos.